segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Caracu


A raça Caracu é originária do cruzamento não-direcionado entre os primeiros bovinos trazidos ao Brasil pelos colonizadores. Seus mais prováveis ancestrais são animais das raças da península ibérica Transtagana, Minhota, Barrosã, Arouquesa, Mirandesa, Brava e Turino (Carvalho Dias, 1948). Os animais denominados Caracu Caldeano apresentam pelagem variando do creme ao vermelho-escuro, bom desenvolvimento corporal, chifres grandes e baixos e boa produção de leite.
Sendo uma raça obtida em clima tropical e naturalmente selecionada, o gado Caracu chegou a ser um dos mais criados em todo o país até o início do século XX, perdendo lugar, posteriormente, com a introdução das raças indianas, quando quase chegou à extinção. Por terem sofrido uma rigorosa seleção natural, os reprodutores Caracu adaptaram-se às condições de monta natural a campo no Brasil, de modo que, hoje, é uma das poucas raças com genes de bovinos europeus que suportam servir em monta natural no Brasil Central.
O rebanho Caracu proveniente da Fazenda Chiqueirão, situada no município de Poços de Caldas, MG, foi formado em 1893, com a inserção das primeiras matrizes e dos primeiros touros. A fazenda adquiriu animais até a década de 40, quando, em virtude da diminuição do tamanho da população da raça e da inviabilidade de aquisição de reprodutores externos, o rebanho foi fechado e passou a produzir seus próprios reprodutores, tornando-se o principal reduto de criação e preservação deste recurso genético. Desde a formação deste rebanho, os animais tiveram uma criação mais direcionada à exploração leiteira, uma vez que a raça é considerada de dupla aptidão. Nos últimos anos, a procura por reprodutores para uso em monta natural em sistemas de cruzamento nas condições do Brasil Central tem aumentado consideravelmente, produzindo reflexos no interesse pela seleção também de critérios usados na bovinocultura de corte (Carvalho Dias, 1997).
A seleção simultânea para produção de carne e leite e o desenvolvimento de programas de melhoramento que contemplem ambos os objetivos podem ser importantes para o melhoramento de raças de dupla aptidão (Lôbo et al., 2000a) e parecem ser cruciais para a Caracu, uma vez que a ausência de direção pode levar à deterioração econômica da atividade e à diminuição sensível do tamanho da população. A definição do objetivo de seleção é o primeiro passo para a resolução deste problema e o passo seguinte é a construção de um índice para identificar a lista de características que influenciam o objetivo, determinando a importância relativa de cada característica (Golden et al., 2000).

terça-feira, 27 de outubro de 2009





Efeitos colaterais da genética de alta produção


Trechos retirados do artigo de Fernando E. Madalena
www.milkpoint.com.br. Acesso: 27/10/2009

Nas últimas décadas, a produção de leite por vaca teve um aumento substancial nos países do primeiro mundo, de onde provém a genética usada no Brasil, mas esse aumento da produção foi acompanhado por importante deterioração da fertilidade.
A prevalência de doenças também tem aumentado e é motivo de preocupação. Por exemplo, Zwald et al (2004) comunicaram incidência de deslocamento do abomaso de 3% de casos por lactação, 10% de cetose, 20% de mamite, 10% de claudicação, 8% de cistos ovarianos e 21% de metrite, em vários estados dos EUA.


Os problemas de fertilidade e doenças refletem na redução da vida útil e aumento da taxa de descarte, bem como no aumento da mortalidade. Estes parâmetros têm atingido valores insustentáveis, tendo a vida útil caído
Também no Brasil, como em outros países importadores de genética de alta produção, os problemas de fertilidade são notórios.
A seleção para maior produção de leite aumenta também a capacidade de consumo de alimento, mas, tal aumento não é o suficiente para atender totalmente os requerimentos energéticos adicionais, decorrentes do aumento da produção, especialmente nas primeiras semanas após o parto, ocasionando, então, balanço energético negativo e maior mobilização de reservas corporais, o que provoca diminuição da fertilidade e aumento de doenças como mamite, febre do leite, cetose e outras.
Infelizmente, o antagonismo genético entre produção e fertilidade encontrada no Holandês persiste também em populações de gado mestiço, segundo resultados de Silva et al. (2001) e Grossi e Freitas (2002).
Segundo Lucy (2005) existe consenso de que o desempenho reprodutivo da vaca de leite é influenciado por ponto característico de condição corporal, geneticamente determinado, ao qual ela migra, depois de iniciada a lactação, através da utilização do tecido adiposo, cuja perda dependeria desse ponto característico e da massa de tecido adiposo disponível, e não das exigências nutricionais. A seleção para maior produção produziu vacas com maior predisposição genética para direcionar os nutrientes para a produção de leite, ao invés de formar gordura corporal, o que é regulado através de mecanismos hormonais. Conseqüentemente, segundo Chagas, et al. (2007), "mesmo quando o consumo de nutrientes é aumentado em altos níveis, o resultado é simplesmente um aumento na produção, sem necessariamente melhorar o desempenho reprodutivo".
Um outro problema que causa perda de fertilidade e saúde é o aumento da endogamia, que, no caso do Holandês, decorreu do uso intensivo de reprodutores famosos em nível mundial. Segundo Funk (2006) a endogamia média no rebanho Holandês dos EUA passou de 2,7% em 1970 para 6,8% em 2000, com previsão de aumento para 8,2% em 2010 e 9,7% em 2020. Devido ao intenso uso dos reprodutores famosos como pais das novas baterias de touros em teste, houve um gargalo na genética disponível. Por exemplo, dos mais de 73.000 touros avaliados pelo Interbull no mundo, nascidos em 1990, metade eram filhos de apenas cinco pais.
No Brasil, o parentesco com antecessores famosos foi o fator que mais influenciou os preços do sêmen importado (Madalena et al., 1985), e Elevation já contribuía, naquela época, com 12% dos genes dos doadores de sêmen de Holandês importado. Este reprodutor e Pawnee Arlïnda Chief foram os avôs paternos de 24% e 22%, respectivamente, de mais de 82 mil vacas analisadas por Zambianchi (2001), ou seja, os dois reprodutores contribuíram na herança genética de 46% dos animais da raça Holandesa estudados.
As ferramentas para solucionar os problemas apontados passam todas pela correção do rumo equivocado, e consistem no o uso de:


Cruzamentos entre raças, p. ex. com Jersey (mas, qual Jersey, o da América do Norte ou o da Nova Zelândia?), ou, com as raças Vermelha Sueca ou Norueguesa (muito promissoras, mas ainda não testadas no Brasil). A superioridade econômica do cruzamento tríplice de Jersey/Holandês/Gir, no caso de abate dos machinhos, foi verificada por Teodoro e Madalena (2005).


Linhagens diferentes de Holandês, sendo a opção mais óbvia a do Friesian da Nova Zelândia, que ainda tem alguns animais sem contaminação pelo Holstein (mas também não devidamente testada no Brasil).


Reprodutores, dentro de cada raça, que aumentem o lucro, o que implica que o produtor ou seu assessor técnico elabore o seu índice econômico de seleção e adquira sêmen dos reprodutores superiores para aquele índice (mas, isto último é só uma possibilidade teórica, pois inexiste sêmen a venda de reprodutores testados no Brasil para todas as características de interesse econômico).


Em todo caso, nenhuma ação deveria ser tomada sem o respaldo de pesquisa competente prévia. O Brasil já vem correndo atrás do prejuízo e simplesmente não pode se dar ao luxo de ignorar o que faz com o principal recurso genético utilizado para a produção de leite.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Por quanto tempo ainda será possível realizar progresso genético?


(Trechos retirados do trabalho : Limites Fisiológicos do Melhoramento Genético
de Aves: Teoria e Prática – realizado por :Elsio Antonio Pereira de Figueiredo)



> Teoricamente, de acordo com Falconer (1989), sem a criação de nova variação genética, por meio de mutação, não se deve esperar que a resposta à seleção continue indefinidamente. Cedo ou tarde, os genes ainda segregando na população-base serão fixados (ou entrarão em estado de equilíbrio, se existir sobredominância), pela seleção ou pela consangüinidade que acompanha a seleção. A resposta à seleção, portanto, vai se reduzindo a cada geração, até cessar. A população então alcança um patamar ou limite da seleção.


> Do ponto de vista genético, a resposta total, relativa à variação genética inicial, depende principalmente do número de lócus contribuindo para esta variação. Se, por exemplo, existir apenas um lócus aditivo com freqüências gênicas de 0,50, os genótipos mais extremos aparecerão, cada um, na população básica, com freqüências de 1/4; ou, se existirem dois tais lócus, com freqüências de 1/16. O limite para a seleção, que é representado pelos genótipos extremos, vai estar dentro da amplitude de variação encontrada na população-base. Logicamente, com grande número de lócus, os genótipos extremos serão cada vez mais raros na população-base, e os limites para a seleção cada vez mais distantes em unidades de desvio-padrão genético da média original.
Da genética quantitativa sabe-se, de antemão, que o número de genes e os seus efeitos são inversamente relacionados, pois para determinada quantidade de variação genética, se existirem poucos genes, cada um causa grande efeito, mas em contrapartida, se existirem muitos genes, cada um causa efeito reduzido. Uma vez que nem o número de genes nem a magnitude dos seus efeitos é completamente conhecida antes do início da seleção, então na verdade não é possível predizer o limite. É possível entretanto, predizer um máximo teórico para o limite.


> A seleção, pode aumentar a freqüência dos mutantes favoráveis, de maneira que eles não sejam perdidos, e, à medida que suas freqüências forem aumentadas,a variância que eles produzem aumentará e estes passarão a contribuir mais para a resposta à seleção.


> Existe, portanto, a teoria de que, no início da seleção, a resposta é devida à variância genética aditiva existente na população-base. A taxa de resposta vai diminuindo gradualmente à medida que esta variância diminui. Após talvez umas 20 gerações de seleção, a variância genética nova, originada pela contribuição dos genes mutantes, começa a contribuir para a resposta, que deverá decrescer mais lentamente. Após algum tempo, todos os genes segregantes na população-base terão sido fixados pela seleção ou pela consangüinidade conseqüente, e a nova resposta depende inteiramente das mutações que se acumularam durante a seleção. Portanto, desta maneira, a resposta irá continuar indefinidamente a uma taxa constante, e não se espera limite à seleção quando existe mutação.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Critério de seleção versus objetivo-fim de um programa de melhoramento genético



À medida que se intensificam os sistemas de produção, e que se aumenta a demanda por eficiência, maior é a necessidade de se ter programas de melhoramento genético bem estruturados, com bom sistema de coleta de dados e com objetivos bem definidos; que sejam orientados para o mercado sem, contudo, desconsiderar as diferentes condições de ambiente geral existentes. Assim, como uma das principais premissas para alcançar sucesso, o programa de melhoramento genético de qualquer espécie animal deve estar fundamentado em objetivos e metas bem definidos, que estes sejam coerentes com a estrutura de mercado vigente e, certamente, condizente com as condições de ambiente geral.
Dessa forma, é importante definir-se claramente o que é objetivo-fim de um programa de melhoramento genético e o que se entende por critério de seleção. Denomina-se objetivo-fim, ou simplesmente objetivo em melhoramento genético, a combinação de atributos de importância econômica que se busca nos indivíduos, ou seja, aquilo que se deseja melhorar. Isso quer dizer que a mudança genética deve ser direcionada no sentido de atender ao mercado. Dessa forma, e somente assim, haverá retorno econômico no empreendimento. A sua definição é ditada pelo mercado, limitada pelo ambiente geral e norteada pela rentabilidade. Uma vez estabelecido o objetivo do programa de melhoramento, faz-se necessário definir o critério de seleção.
Entende-se por critério de seleção, a característica ou conjunto de características que serão medidas, e, a partir das quais, far-se-á a escolha dos indivíduos. Depreende-se daí que existe uma relação estreita entre objetivo-fim de um programa genético e critério de seleção, mas que estes não são, todavia, sinônimos. O critério de seleção pode ser uma combinação ponderada de características que resulte em um índice final de seleção. Essas ponderações devem ser constituídas por valores econômicos dados a cada uma das características que o compõe, ou seja, eles representam a contribuição de cada uma para o retorno econômico da seleção.



Fonte - EMBRAPA

sábado, 5 de setembro de 2009

Perspectivas da genética de gado de corte brasileira dentro do contexto mundial por Luiz Alberto Fries

Profundas transformações estão ocorrendo em melhoramento genético de gado de corte e numa velocidade difícil de ser acompanhada. É necessária uma compreensão dos fatos e componentes político-econômicos para que recentes progressos realizados na área não sejam perdidos. O domínio técnico existe e conhecimento está sendo gerado, mas o que o momento exige é perceber os fatos e agir. É necessário direcionar a seleção genética das nossas populações bovinas dentro do sistema produtivo instalado, capaz de garantir esta atividade sócio-econômica a longo prazo por já possuir o principal item de competitividade internacional: baixo custo de produção.

O melhoramento genético animal




Historicamente o melhoramento genético de animais foi baseado na seleção de indivíduos com fenótipo desejável como pais para a próxima geração. Comparando-se as populações mais antigas com as mais modernas constata-se facilmente que a seleção artificial obteve sucesso em alterar fenótipos apesar de não necessitar do conhecimento formal da genética.